Jonas falava
baixo e olhava em torno de tempos em tempos, como se suas palavras o fizessem
alvo das criaturas:
- Entenda,
eu moro aqui em cima do mercadinho. E tenho insônia. Faz um bom tempo que não
tenho namorada e, nas noites em que não costumo dormir, costumo ficar na sacada
do meu quarto, olhando para a rua, para o movimento. Foi o que fiz ontem.
Era... deixe-me ver... onze horas, onze e meia? Tudo parecia normal. Muitas
pessoas na rua, muitas na frente de suas casas ainda. Outras já começavam a se
recolher. Uma noite normal como todas as outras. Então eu ouvi aquele som
estranho e estrondoso. Parecia uma música, mas não era uma música. Parecia mais
como se você colocasse dezenas de carros de som um do lado do outro e o
resultado era uma... como dizer?
- Cacofonia?
– atalhou Edgar.
- Sim, acho
que seria isso. então havia esse som estranho, em volume altíssimo, se
aproximando. E esse som parecia mexer com as pessoas. Eu olhava para elas e
elas pareciam se transformar. Não sei dizer ao certo o que era, mas aquela
música mexia com elas. E aquilo foi ficando cada vez mais próximo, até que pude
perceber de onde vinha. Era uma espécie de carro de som, mas era bem maior,
como um caminhão.
- Um veículo?
Quem dirigia?
- Eu não
conseguia ver. Ele passou na avenida principal, longe daqui. Além disso, logo
parei de olhar para ele e olhei para a rua. Cara, foi o caos.
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