A mulher ainda se debateu um pouco mais, até soltar um
último urro final, que parecia misturar dor e desespero. Então a multidão
começou a se afastar dela. Cada um trazia algo na mão. Inicialmente Edgar achou
que a tivessem roubado, então olhou direito. Foi a menina com a boneca que o
fez perceber o que estava acontecendo.
(oh, meu Deus, oh meu Deus, não!)
Ela se afastou carregando algo na mão e levando à boca, como
se fosse um pirulito. Mas não era um pirulito, ou um picolé, era
(oh, não, oh não!)
Um dedo humano. Era um dedo humano. Da mulher que fora
encoberta pela horda. Edgar ainda podia ver o esmalte vermelho na unha, agora
já desgastado.
A menina o levava à boca e chupava e lambia, como se fosse
uma iguaria. Então colocou-o todo na boca, com a voracidade de que não come a
meses. O dedo era grande demais para sua boca pequena, mas ela o mastigava
abrindo e fechando muito a boca, o sangue escorrendo de seus lábios.
Uma mulher se apropriara do fígado e parecia não se decidir
entre mastigar e lamber o sangue que escorria. Outro dos zumbis tentou
roubar-lhe o pedaço escarlate de carne, mas ela o repeliu com um rosnado. Este
voltou ao seu pedaço de carne e a esqueceu. Devia ser um dos seios e ainda
trazia consigo uma parte do tecido da blusa, mas o homem comia assim mesmo, sem
fazer qualquer distinção entre roupa e carne.
Edgar fechou os olhos da menina em seu colo, apertando-a
contra seu peito, mas até mesmo ele tinha que se segurar para não vomitar com a
imagem da multidão se fartando com aquele banquete nojento.
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