Jonas passou
a mão pela testa. Estava molhada de suor. Sua mão também, mas isso pareciar
dar-lhe algum tipo de consolo:
- O som
mexia com as pessoas. Aquela música ensurdecedora era... era como se deixasse
as pessoas malucas. Uma das vizinhas estava na frente da casa. Era uma senhora
idosa, acho que a pessoa mais amável que
já conheci. Sabe o tipo que se dá bem com todo mundo?
- Sei.
- Ela estava
numa cadeira de macarrão, fazendo tricô, quando o som passou. O netinho estava
brincando ao lado. Devia ter o que? Três anos? Quando o som começou a afetar as
pessoas, ela segurou o garotinho pela garganta e enfiou a agulha de tricô no
olho dele. O garoto começou a estrebuchar. Ela tirou a agulha e enfiou no outro
olho. De repente, era como se todo mundo ficasse louco. Parecia que todo mundo
queria matar ou machucar alguém.
- Mas você
não foi afetado.
- Eu ouvi o
som como todo mundo. Era ensurdecedor e eu coloquei as mãos nos ouvidos. Mas vi
outras pessoas fazendo isso e elas também ficaram loucas. Não tenho a menor
ideia de como continuei normal. Passei o resto da madrugada olhando da sacada.
A loucura inicial foi diminuindo e as pessoas foram se acalmando, mas não
voltaram ao normal. Ficaram, você viu...
- Ficaram
como zumbis.
- Isso. –
assentiu Jonas.
- E a
garotinha?