segunda-feira, 27 de abril de 2015

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 35




- Sabe, eu não suporto som alto. – disse Alan quando entraram no prédio. Eu moro com mais dois amigos da faculdade e durmo com tampões no ouvido. Também fiz um isolamento acústico improvisado, com caixas de ovos, no meu quarto.
Estavam entrando no prédio. Edgar ia na frente, a garotinha segurando em sua mão. Gostaria de ter algo na outra mão, talvez um porrete, para não se sentir tão desprotegido. Depois dele vinha Jonas e lá atrás o garoto, falando e falando e falando.
- Quando eu acordei de manhã, a casa tinha virado um inferno. Eu pensei: cara, o que esses caras tomaram ontem à noite? Então saí e vi que não tinha ninguém na rua...
- Quieto! – ordenou Jonas, o dedo na boca, em sinal de silêncio.
Era uma situação delicada. Não havia nenhum zumbi na entrada, mas teriam que subir as escadas e poderiam ficar encurralados ali.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 34


O carro manobrou para o estacionamento de um conjunto residencial. Pareciam estar entrando em um cenário de guerra. Havia pedaços de móveis, televisões e até um fogão caídos por ali. Aparentemente, quando as pessoas se transformaram, muitas sentiram o impulso de jogar as coisas pela janela.
- Acho que eles gostam de ver a destruição. – comentou Jonas.
Edgar fez que sim com a cabeça. A menina escrevera que o apartamento em que morava ficava no quarto andar. O elevador provavelmente não devia estar funcionando e, mesmo se estivesse, seria arriscado pegá-lo.
Um pensamento atravessou rápido sua mente: e se o prédio ainda estivesse cheio daquelas coisas?

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 33


Um passarinho aproximou-se voando e soltou um longo pio. Apesar de tudo, quando mais tarde lhe perguntaram sobre o ocorrido, era a única coisa que Edgar conseguiria se lembrar. Os zumbis estavam lá fora, esmurrando e grasnando seu grito uníssono de ódio e violência, mas a sua mente se focara apenas no passarinho, talvez como uma forma de fulga. De alguma forma, sua mão direita engatou a primeira marcha e o pé fez seu trabalho. O carro saiu roncando e escabeceando como um touro, atropelando pessoas em seu caminho, mas o professor não se lembrava de nada disso.
Jonas disse-lhe que a roda dianteira havia passado por cima de alguém, mas era como dizer para um bêbado o que ele fizera na noite anterior.
De alguma forma, o carro se livrou da horda e se afastou.
- Edgar? Edgar?- perguntou Jonas.
O professor parece despertar de um sonho, ou de um pesadelo:
- Sim?
- Como estamos de gasolina?
Edgar olhou o ponteiro. Tinham um terço de combustível.
- Você deixou a mangueira derramando. – disse o rapaz lá atrás.
- Quem é esse?
- Meu nome é Alan.
- Você nos colocou em apuros lá atrás.
- Eu sei. – respondeu o rapaz, encolhendo-se no banco. Mas eu não queria correr o risco de perder vocês.
- Melhor não fazer isso de novo. Ou da próxima vez você não estará dentro do carro...

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 32




A tampa finalmente encaixou, com um clique. Edgar pegou a chave e abriu a porta. Algo agarrou seu ombro. Dentro do carro, os gritos de aviso haviam se transformado numa cacofonia indistinguível. Mesmo com as garras segurando sua pele (dor, muita dor), ele se abaixou e entrou no carro, ao mesmo tempo em que fechava a porta. O homem que o segurava urrou, mas continuou apertando.
Edgar soltou a porta e voltou a puxá-la, agora com mais força. Agora ela encontrou os dedos do zumbi, que se afastou dali, olhando incrédulo para os próprios dedos.
- Vai, vai, vai! – gritava Jonas, ao seu lado.
A chave deslizou em sua mão e ameaçou cair (tremendo, minha mão está tremendo!),mas ele conseguiu segurá-la e engatá-la na ignição. O carro ligou com um ronco leve, como um gato que reclama de ser acordado.
Nisso, já havia várias pessoas ao redor do carro. Algumas esmurravam, outra arranhavam o vidro. Não demoraria muito para que uma delas desse o golpe certo.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 31



O grupo se aproximava cada vez mais e agora andava muito, muito mais rápido. Tinham visto suas presas e não queriam perde-las.
- Entre logo! – gritou Jonas.
- Só mais um pouco!
A menina bateu no vidro do carro, aflita. O rapaz de tênis all star parecia não se sentir íntimo o bastante para reclamar, mas o medo era visível em seu rosto.
Então o tempo se alterou, como se tudo acontecesse em outra dimensão, mais lenta.
Um dos zumbis começou a correr. Edgar sabia que ele estava correndo, mas o via lentamente, como numa imagem em câmera lenta. Outros o seguiram. Dentro do carro, os três gritavam, mas Edgar não conseguia ouvi-los.
A mangueira foi retirada do tanque e caiu no chão, soltando gasolina em espasmos, como uma cobra em frenesi de morte.
O professor pegou a tampa sobre o carro e tentou coloca-la, mas ela não encaixava. Olhou para trás e viu que o zumbi estava apenas a alguns metros. Lá dentro, os três tentava avisá-lo (eu estou vendo, eu estou vendo!).
Quantos segundos? Quantos segundos até que eles o alcançassem?

O UIVO DA GÓRGONA - PARTE 30




Edgar olhou na direção que o outro apontava. A mangueira de combustível pulsava em sua mão. Lá longe um grupo compacto se aproximava. Era uma multidão ainda maior do que a que vira antes (eles estão se juntando!). Não corriam, mas não demorariam para alcança-los.
Dentro do carro, Sofia olhou-o, os olhos aflitos.
- Precisamos ir. – avisou Jonas.
- O tanque estava vazio. Coloquei pouca gasolina...
- Se eles nos alcançarem, isso não vai fazer diferença!
- Entre no carro, vou tentar colocar um pouco mais.
Jonas entrou. Lá dentro, os dividiam a atenção entre o professor manipulando a mangueira de gasolina e a horda que se aproximava.